Na última postagem falamos da Meditação como “ferramenta estratégica” para o cultivo do
silêncio e caminho para paz , citando de forma geral seus benefícios e
apresentando algumas fontes bibliográficas onde poderiam de maneira mais
profunda serem estudados, juntamente com outros tantos pontos para melhor
entender e praticar esta milenar arte de interiorização, autodescoberta,
equilíbrio e evolução.
No entanto, após alguns questionamentos que
recebemos, consideramos próprio fazer uma nova postagem voltada a um maior
esclarecimento sobre as bases psicofisiológicas da meditação e de como pode
alavancar, integradamente a outras estratégias e técnicas o processo de
Coaching Integral, facilitando a obtenção dos resultados desejados quanto ao
desenvolvimento com qualidade e sucesso nos âmbitos pessoal, social e
profissional de nossas vidas.
Mas, o que faz a prática regular da
meditação com nosso corpo e mente, segundo estudos já realizados?E como estes
efeitos benéficos podem nos auxiliar a alavancar nossas vidas, com mais sucesso
e qualidade?
Quanto a primeira questão, inicialmente podemos
afirmar que os efeitos psicofisiológicos da prática regular da meditação,
ocorrem simultaneamente e sobre influência recíproca, embora possamos
dividi-los para uma apresentação mais
didática nesta postagem em: efeitos fisiológicos (sobre o corpo) e efeitos
psíquicos (sobre a mente).
Em seu conjunto, constituem um amplo campo de
estudo para a psicofisiologia, quando busca entender as relações entre o
psiquismo e as modificações fisiológicas que ocorrem no organismo em
consequência da atividade psicológica.
O Dr. Donald Sperry, ganhador do Prêmio Nobel de
Medicina em 1969, por seus estudos sobre a assimetria funcional dos hemisférios
cerebrais, descobriu que o hemisfério esquerdo e o direito trabalham de forma
totalmente assimétrica, diferenciada e contrastante, porque não têm as mesmas
funções (Dantas, 2001).
O
hemisfério esquerdo trabalha com conceitos lógicos, concepções formais e
critérios matemáticos, sendo o centro da linguagem. “É ele o hemisfério que fala e em conexão a este hemisfério está o
conceito de ser consciente, ou EU. É analítico e sequencial. Pode somar,
subtrair, multiplicar e realizar qualquer tipo de operação computável, e este
domínio se deriva da sua habilidade verbal e de sua ligação com a consciência.
É um hemisfério aritmético. Percebe os detalhes, as sequências . É a sede do
pensamento racional, analítico, lógico e objetivo. Sua visão é fragmentada, percebendo
os detalhes, as nuances e a
complexidade. Interpreta literalmente. É o hemisfério do domínio da Ciência, do
conhecimento. Nele moram o individualismo e a competitividade.”(Tavares,
1993)
O
hemisfério direito, lida com os sentimentos, emoções e sensações de textura.
Apresenta grande capacidade em todas as espécies de desenhos geométricos e de
perspectiva. “É um hemisfério geométrico.
Nele residem o temperamento artístico, a criatividade, a invenção, a capacidade
imaginativa e os sonhos. É a sede do pensamento intuitivo, sintético,
subjetivo. Tem uma visão holística do todo, do contexto, dos padrões. Percebe
as intenções ocultas e o duplo sentido nas comunicações. O espírito grupal e o
instinto de cooperação aí residem, bem como a melodia e as imagens.” (Tavares,
1993)
Embora separados anatomicamente, funcionalmente
não o são. A conexão entre ambos é realizada pelas fibras do Corpo Caloso que
funcionam como uma espécie de ponte, possibilitando que o cérebro como um todo,
trabalhe de forma integrada.
Infelizmente, esta integração em níveis
desejáveis para estimulação de um desempenho mais eficiente e eficaz do
conjunto de nossas competências nem sempre ocorre, visto que o processo
educacional ocidental, tem se dedicado basicamente em desenvolver os aspectos
referentes ao hemisfério cerebral esquerdo, embora já existam poucas, mas
respeitáveis iniciativas (vide “Educação
para uma Nova Era”, de Maria Luiza Pontes Cardoso, 1999), de propostas
pedagógicas inovadoras, fundamentadas no novo Paradigma Holístico.
É, no entanto, em função ainda do predomínio do
Paradigma Newtoniano-Cartesiano dentro do processo educacional e científico
ocidental, que a grande maioria dos cientistas atribuem ao hemisfério esquerdo
a dominância funcional sobre o direito, considerado por eles como hemisfério
secundário.
Um sistema educacional que ainda se baseie em
palavras predominantemente como o nosso, tenderá a reforçar cada vez mais a
dominância do hemisfério esquerdo e, por consequência, minimizar todos os
estímulos que tenham a ver com a intuição e a imaginação.
Por isso, predomina em nossa forma de perceber o
mundo e de interagirmos com ele, uma visão mecanicista e fragmentária da
realidade, prevalecendo neste processo a funções racionais, lógicas,
matemáticas, reducionistas e analíticas.
Como muito bem coloca Clotilde Tavares em sua
obra Iniciação à Visão Holística:
“Tendemos inclusive a
identificar o ‘eu’ com a parte esquerda do cérebro, privilegiando o ‘eu’ verbal
, o ‘eu’ que fala, em detrimento do ‘eu’ que intui, do ‘eu’ que sente e que
reside no lado direito...
...Apesar de não dominar
a linguagem, é o hemisfério direito que domina a inflexão, o colorido, o tom
emocional da fala...
...E embora usemos o
hemisfério esquerdo para dizer ‘eu te amo’, é com o hemisfério direito que
emprestamos emoção e veracidade a esta afirmação.”
É ele que tem a capacidade de perceber padrões,
nos permitindo reconstruir ou conhecer o todo
baseado na visualização apenas de alguns traços, possibilitando, por
exemplo, ao médico chegar a um diagnóstico a partir de sintomas isolados; a um
industrial ou comerciante ter a possibilidade de prever as tendências de
mercado e a uma pessoa reconhecer outra depois de vários anos sem vê-la, apenas
por alguns traços fisionômicos.
É o hemisfério direito que nos possibilita
perceber a ulterioridade, a ambiguidade contida numa comunicação e até mesmo a
graça de uma anedota inteligente.
Por isso, afirmamos que não existe um hemisfério
mais importante. Os dois têm funções
complementares para nossa sobrevivência, com qualidade e sucesso em nossas
vidas.
Ambos devem ser percebidos, valorizados e,
principalmente, adequadamente estimulados
em um processo educacional que tenha o entendimento do ser humano a
partir de sua complexidade e inteireza.
Quando isso não acontece, o que é comum em nossa
sociedade, precisamos buscar ao sermos despertos para o problema, atividades
que nos propiciem estímulos compensatórios para o equilíbrio e desenvolvimento
das funções dos dois hemisférios – A Meditação é um dos caminhos de
reconhecidos resultados para este fim, quando utilizada intencionalmente e com
técnicas adequadas a cada caso, como fazemos no Coaching Integral, por exemplo.
Dentre seus benefícios fisiológicos de sua
prática regular, conforme os estudos de Wallce (1970), estão a ampliação das
ondas alfa, relacionadas ao processo de relaxamento, um menor consumo de
oxigênio pelas células do corpo (funcionamento menos acelerado do coração) e
uma diminuição da condução elétrica da pele, indicativo do estado de
relaxamento.
Um outro estudo em Harvard (Wallce et al.,
1971), citado por Cardoso (2005), identificou como resultados da prática
regular de técnicas de meditação a diminuição do ritmo cardíaco, redução da
frequência respiratória , diminuição da condução elétrica da pele, ampliação da
intensidade das ondas alfa, ou seja, uma redução geral do consumo de energia
para manutenção do metabolismo necessário apenas às mínimas funções para nos
mantermos “ligados”, em estado claramente diferente do sono e da hipnose.
Embora outros tantos estudos realizados na
década de 80 comprovem os mesmos resultados, desejamos destacar aqui os estudos
de Lehmann et. Al. (1986) que verificou que “meditadores”, embora capazes de disparar as chamadas “reações de alarme”, indispensáveis em
casos de situações emergenciais (disparo do mecanismo do estresse), o fazem de
maneira mais curta, autolimitando o estresse e, consequentemente, seus efeitos
nocivos para o corpo, com prováveis e consequentes benefícios para nosso
equilíbrio psíquico.
Também os resultados dos estudos de Lazar et al.
(2000), mostram os benefícios da meditação para o estresse.
Quanto aos benefícios psíquicos específicos da
prática regular da meditação, também comentados na publicação Medicina e
Meditação (Cardoso, 2005), nem sempre encontramos fundamentação dentro do
paradigma newtoniano-cartesiano, visto não estarem costumeiramente ao “alcance
da lógica formal”. Afinal de contas,
como descrever uma vivência que, teoricamente, estaria “além da lógica”. Além
disto, o tempo de aparecimento de cada benefício, varia consideravelmente de
pessoa para pessoa. No entanto, mesmo não desconsiderado isto, apresentaremos
nesta postagem como efeitos psíquicos da prática regular das técnicas de
meditação catalogados, os seguintes:
1º) Relaxamento Psíquico,
ou seja, diminuição do “estado de alerta” constante em que o dia-a-dia de nossa
atualidade nos mantém quase permanentemente;
2º) Frequente vivência
positiva, onde o prazer é uma constante nos praticantes da meditação;
3º) Desenvolvimento
progressivo de uma sensação de equilíbrio e “paz interior”;
4º) Sensação crescente de
Felicidade e de Saciedade, como natural consequência da constância das práticas meditativas;
5º) Sentimento de “Fazer Parte de Um Todo Maior”, de harmonia
com o contexto social e planetário a onde se está inserido: Ampliação da “Qualidade de Nossa Presença”;
6º) Maior Equilíbrio
Emocional, com crescente tendência à despreocupação de “perda do controle”. Ou
seja, com uma exigência interna cada vez menor em “manter o controle” sobre o entorno e sim dirigindo sua energia
ao holocentramento;
7º) Um progressivo
aprofundamento da “experiência espiritual”, não vinculada obrigatoriamente a
uma doutrina ou estrutura religiosa específica. Apenas a sensação de uma “Grande
Presença”, de algo extremamente agradável e maior do que tudo que
conceitualmente conhecemos, uma sensação de pertencimento, amorosidade e paz.
Desta perspectiva, conforme as palavras
de Shunryu Suzuki Roshi:
“A meditação abre a mente para o maior dos
mistérios que acontece diariamente e a toda hora; ela expande o coração para
que ele possa sentir a eternidade do tempo e a infinidade do espaço em cada
pulsação; nos provê uma vida dentro do mundo que é como se estivéssemos nos
movimentando no paraíso; e todos esses efeitos espirituais ocorrem sem qualquer
refúgio em uma doutrina, mas pela simples e direta ligação com a verdade que
reside no nosso mais íntimo ser”.
8º)
Mudanças em relação ao sono, com ênfase na saciedade e qualidade do repouso
obtido, no aumento das lembranças quanto aos sonhos experimentados e de um
progressivo acesso a “insights”
quanto aos seus significados.
Embora tudo o que foi exposto, não temos a
pretensão de esgotarmos aqui os resultados dos estudos e pesquisas que vêm
sendo desenvolvidas quanto aos resultados do uso sistemático da meditação.
No entanto, acreditamos que oferecemos aos
visitantes deste blog, material informativo suficiente para o entendimento não
só da atualidade da prática sistemática da meditação, bem como das razões pelas
quais a utilizamos dentro do modelo de Coaching Integral, como estratégia para
o desenvolvimento do equilíbrio físico, emocional e espiritual indispensáveis
àqueles que têm por meta a melhoria de seus resultados profissionais, bem como
a ampliação da qualidade nos planos pessoal e social de suas vidas.
A
maior revolução de nossa geração é a descoberta de que os seres humanos podem,
ao mudar as atitudes mentais internas, mudar os aspectos exteriores de suas
vidas.
William
James